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    Moro pede demissão e diz que Bolsonaro queria interferir politicamente na PF

    O ex-juiz anunciou na manhã desta sexta-feira (24) que deixará o Ministério da Justiça. Sergio Moro é o nono ministro a sair do governo

    PORPatrícia di Sanctis

    24/04/2020 15:03
    Atualizado em 05/04/2024 13:35

    Moro pede demissão e diz que Bolsonaro queria interferir politicamente na PF

    O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro, em 2019 (Foto: Adriano Machado/Reuters)

    O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, decidiu entregar o cargo nesta sexta-feira (24) e deixar o governo de Jair Bolsonaro após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ter sido publicada nesta madrugada no Diário Oficial da União. Ele anunciou a saída do governo a pessoas próximas.

    O pedido de demissão aconteceu horas depois do presidente Jair Bolsonaro exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Leite Valeixo, que é próximo a Moro.

    Segundo diversos veículos jornalísticos, a permanência dele era uma condição do então ministro para continuar no governo.

    Após Moro anunciar um pronunciamento às 11h desta sexta, o Planalto enviou emissários para tentar convencer o ministro a ficar. Em vão. Moro não aceitou, mostrou-se irredutível.

    O contexto da exoneração de Valeixo foi considerado decisivo para o ministro bater o martelo.

    Na avaliação de aliados de Moro, Bolsonaro atropelou de vez o ministro ao ter publicado a demissão de Valeixo durante as discussões que ainda ocorriam nos bastidores sobre a troca na PF e sua permanência no cargo de ministro. Diante desse cenário, sua permanência no governo ficou insustentável, e Moro decidiu deixar o governo.

    Ao anunciar a demissão, em pronunciamento no Ministério da Justiça, Moro afirmou que disse para Bolsonaro que não se opunha à troca de comando na PF, desde que o presidente lhe apresentasse uma razão para isso.

    “Presidente, eu não tenho nenhum problema em troca do diretor, mas eu preciso de uma causa, [como, por exemplo], um erro grave”, disse Moro.

    Moro disse ainda que o problema não é a troca em si, mas o motivo pelo qual Bolsonaro tomou a atitude. Segundo o agora ex-ministro, Bolsonaro quer “colher” informações dentro da PF, como relatórios de inteligência.

    De acordo com Moro, ele disse para Bolsonaro que a troca de comando na PF seria uma interferência política na corporação. Ele afirmou que Bolsonaro admitiu a interferência.

    “Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo”, revelou Moro.


    O agora ex-ministro contou que Bolsonaro vem tentando trocar o comando da PF desde o ano passado.

    “A partir do segundo semestre [de 2019] passou a haver uma insistência do presidente na troca do comando da PF.”

    ‘NÃO ASSINEI EXONERAÇÃO’

    Moro afirmou ainda que não assinou a exoneração de Valeixo, ao contrário do que aparece no “Diário Oficial”.

    “Eu não assinei esse decreto e em nenhum momento o diretor da PF apresentou um pedido oficial de exoneração”, disse.

    ‘CARTA BRANCA’

    Moro também disse que, quando foi convidado por Bolsonaro para o ministério, o presidente lhe deu “carta-branca” para nomear quem quisesse, inclusive para o comando da Polícia Federal.

    “Foi me prometido na ocasião carta branca para nomear todos os assessores, inclusive nos órgãos judiciais, como a Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal”, afirmou o agora ex-ministro.

    No anúncio, Moro chegou a se emocionar e a ficar com a voz embargada. Foi quando ele disse que havia pedido ao presidente uma única condição para assumir cargo: que sua família ganhasse uma pensão caso algo de grave lhe acontecesse no exercício da função.

    “Tem uma única condição que coloquei. Eu não ia revelar, mas agora isso não faz sentido. Eu disse que, como estava saindo da magistratura, contribuí durante 22 anos, pedi que, se algo me acontecesse, que minha família não ficasse desamparada”, disse Moro.

    Com informações da Folha e G1

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