Na manhã desta sexta-feira (10), a Polícia Civil (PC) deflagrou a operação Lima em Artur Nogueira (SP), resultando na prisão de quatro pessoas — duas em flagrante e duas em cumprimento de mandado judicial — e na apreensão de armas, drogas e dinheiro. A ação teve como objetivo capturar os envolvidos em um roubo ocorrido em uma empresa da cidade, quando cerca de seis criminosos encapuzados, três deles armados, renderam e amarraram funcionários durante a noite do crime.
De acordo com as vítimas, o grupo permaneceu no local entre as 20h e as 4h da manhã seguinte, utilizando uma empilhadeira para carregar diversos objetos e até retirando a fiação elétrica da empresa. Na fuga, levaram também um veículo que, posteriormente, foi encontrado abandonado às margens da Rodovia SP-332, no km 148. O Instituto de Criminalística de Americana realizou a perícia técnica no local e no veículo, que foi restituído à proprietária após os procedimentos legais.
As investigações apontaram que, após o roubo, um dos criminosos manteve contato com uma das vítimas, fato que ajudou na identificação de parte do grupo e inspirou o nome da operação, em referência à “Síndrome de Lima” — fenômeno psicológico em que sequestradores desenvolvem empatia por suas vítimas.
A operação contou com a participação de 110 agentes das Polícias Civil e Guardas Municipais de Artur Nogueira, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Jaguariúna e Paulínia. Foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão temporária.
Durante as ações, foram apreendidas duas armas de fogo, dois simulacros, 15 munições, cerca de 4,1 quilos de drogas variadas, R$ 4.825,50 em dinheiro, uma motocicleta, um veículo Gol e diversos equipamentos utilizados para a prática de roubos.

Segundo a Polícia Civil, a operação Lima representa um importante avanço no combate à criminalidade organizada na região, reforçando a integração entre as forças de segurança e o compromisso no desmantelamento de quadrilhas especializadas em roubos a empresas.
Síndrome de Estocolmo e Síndrome de Lima: quando o crime desperta vínculos emocionais entre vítimas e agressores
Embora a operação da Polícia Civil tenha envolvido um crime contra a saúde pública e violentos, há fenômenos psicológicos relacionados a situações criminosas que chamam atenção por despertarem reações emocionais inesperadas entre vítimas e agressores. Entre os mais conhecidos estão a Síndrome de Estocolmo e a Síndrome de Lima — dois comportamentos opostos, mas que revelam a complexidade das relações humanas diante do trauma e da coação.
Síndrome de Estocolmo: quando a vítima cria laços com o agressor
A Síndrome de Estocolmo é um fenômeno psicológico em que a vítima de sequestro, cárcere privado ou violência passa a sentir empatia, simpatia ou até afeição pelo agressor. O termo surgiu após um assalto a banco ocorrido em Estocolmo, na Suécia, em 1973, quando reféns desenvolveram vínculos emocionais com os criminosos e chegaram a defendê-los publicamente após a libertação.
Especialistas explicam que essa reação é uma resposta psicológica de sobrevivência, em que o cérebro tenta reduzir o medo e a tensão, criando um vínculo emocional como forma de autoproteção. Casos de sequestros prolongados, abusos domésticos e exploração sexual também podem apresentar sinais semelhantes.
Síndrome de Lima: quando o agressor se sensibiliza pela vítima
A Síndrome de Lima, por sua vez, é o inverso da Síndrome de Estocolmo. Ela ocorre quando o sequestrador ou criminoso desenvolve empatia e simpatia pela vítima, chegando a poupar, libertar ou ajudá-la. O termo foi criado após um sequestro ocorrido em Lima, no Peru, em 1996, durante o qual os sequestradores libertaram rapidamente grande parte dos reféns por sentirem compaixão e identificação com eles.
Nesse caso, o agressor passa a enxergar a vítima como um ser humano e não mais como um inimigo, sendo influenciado por fatores emocionais, morais ou até religiosos.
Outros fenômenos psicológicos ligados ao crime
Além dessas duas síndromes, há outros comportamentos psicológicos estudados pela criminologia e psicologia forense:
- Transtorno de dependência traumática: ocorre quando a vítima se torna emocionalmente dependente do agressor, mesmo em contextos de abuso ou violência, devido à alternância entre punição e afeto.
- Síndrome de Folie à Deux (loucura a dois): acontece quando duas ou mais pessoas compartilham o mesmo delírio ou crença irracional, muitas vezes associado a crimes cometidos em dupla, como casais criminosos.
- Síndrome do Salvador: fenômeno em que o agressor acredita estar “ajudando” a vítima ou “corrigindo” um erro por meio da violência, comum em casos de fanatismo ou ideologia distorcida.
Esses fenômenos mostram como o comportamento humano diante do crime é complexo e multifacetado, envolvendo não apenas ações ilegais, mas também mecanismos psicológicos de defesa, empatia e manipulação emocional — o que torna o trabalho das autoridades e dos especialistas em saúde mental essencial na investigação e recuperação das vítimas.