Votuporanga vive um paradoxo cruel: enquanto o discurso oficial celebra a abertura de vagas no comércio e na indústria, a realidade mostra que esses empregos não suportam o crescimento populacional e oferecem salários cada vez menos atrativos. O resultado? Perde sua juventude e trabalhadores buscam alternativas fora da cidade — seja em concursos públicos estaduais, como o da Polícia Militar, ou acabam iludidos pelo crime organizado, que alicia cada vez mais rápido quem perde a esperança em um futuro digno.
Concurso da PM vira válvula de escape
A grande procura pelo concurso da Polícia Militar é reflexo direto do fracasso da política econômica local. O salário inicial de quase R$ 5 mil e a estabilidade da carreira contrastam com vagas temporárias e mal remuneradas que o comércio e as fábricas da cidade ainda conseguem oferecer.
Com Votuporanga sendo sede das provas, o fenômeno se intensifica: jovens se inscrevem em massa, não por vocação, mas por falta de opções. E, quando aprovados, acabam servindo em outras cidades, longe da família e da própria comunidade que os viu crescer.
A face cruel da violência: índices alarmantes perde sua juventude
Mas o que já é ruim se agrava. Sem oportunidades reais, muitos jovens não seguem para os concursos, mas para o mundo do crime:
- Em 2023, Votuporanga registrou 13 homicídios em apenas 10 meses, marcando o ano mais violento da história da cidade.
- O Instituto Sou da Paz colocou Votuporanga entre os 50 municípios mais expostos à criminalidade em São Paulo, superando inclusive São José do Rio Preto.
- Ocorrências de tráfico de drogas e furtos têm se multiplicado, mostrando que o crime cresce mais rápido do que o mercado de trabalho formal.
Essa combinação trágica gera medo e insegurança generalizada. As famílias que ficam sofrem com a ausência dos filhos que buscam estabilidade fora e convivem diariamente com o receio de que os que ficaram sejam tragados pela criminalidade.
Cidades vizinhas avançam — Votuporanga fica para trás
Enquanto Votuporanga se perde no improviso, cidades como São José do Rio Preto e Olímpia conseguem atrair investimentos, diversificar a economia e investir em tecnologia de segurança pública, reduzindo índices de violência.
Em Rio Preto, novos polos industriais e de serviços garantem oportunidades que retêm a população local. Já Olímpia investiu pesado em turismo e monitoramento urbano, registrando queda nos indicadores criminais.
E Votuporanga? Permanece refém de um comércio saturado e de poucas fábricas que não dão conta da expansão populacional.
Falta de resposta política
Diante desse quadro, fica a pergunta inevitável: onde estão o prefeito e a Câmara Municipal?
Enquanto jovens deixam a cidade ou são seduzidos pelo crime, o poder público insiste em discursos vazios e estatísticas que não refletem a vida real do votuporanguense. Sem projetos consistentes para atrair empresas, diversificar a economia e reforçar a segurança, a cidade perde sua força de trabalho, enfraquece sua economia e mergulha em uma espiral de violência e abandono.
Resumo duro e direto: Votuporanga, sem planejamento, força sua juventude a deixar a cidade por concursos estaduais ou se render ao crime. O resultado é uma população assustada, famílias desestruturadas e uma cidade que, enquanto outras avançam, vê seu futuro ser roubado diante da inércia política.
Falta de Guarda Municipal
Outro ponto que escancara a fragilidade de Votuporanga é a ausência de uma Guarda Civil Municipal (GCM). Enquanto cidades do mesmo porte, como Catanduva, já estruturaram guardas municipais modernas com tecnologia integrada — como o programa Muralha Digital, que conta com mais de 300 câmeras inteligentes e central de monitoramento operada pela própria GCM — Votuporanga segue sem esse suporte preventivo .
Essa omissão política não é trivial: estudos do IPEA apontam que municípios paulistas com guardas municipais conseguem reduzir em até 402 crimes por 100 mil habitantes os índices de roubos e furtos — uma queda de cerca de 30 % — além de uma leve redução na taxa de homicídios — aproximadamente 0,03 mortes por 100 mil habitantes para cada guarda adicional .
Sem essa estrutura, Votuporanga deixa a segurança da população à mercê da Polícia Militar e Polícia Civil, que já enfrentam sobrecarga. A falta de uma GCM impede uma intervenção preventiva eficaz, permitindo que crimes como furtos, tráfico e violência urbana se espalhem sem reação rápida — alimentando o medo e a sensação de vulnerabilidade.
Enquanto isso, em Catanduva, a presença ativa da GCM — com rondas contínuas nas ruas e proximidades de escolas — tem sido apontada pelas autoridades locais como responsável pela redução de ocorrências de furtos e danos ao patrimônio público .
A inércia do prefeito e da Câmara Municipal de Votuporanga é, portanto, inaceitável. A falta da Guarda Municipal não é apenas uma falha administrativa: é um sintoma do descompromisso com a segurança e o futuro da juventude local, que se vê forçada a escolher entre concursos longe da família ou ser tragada pelo crime — enquanto quem fica vive amedrontado pela própria cidade.