Contexto histórico: o vazio e os números que pesam
Em 2025, Votuporanga convive com altos índices de homicídios e tráfico de drogas, um cenário dramático que deveria impulsionar a adoção de medidas efetivas de segurança pública municipal. No entanto, a cidade segue sem lançar mão sequer de uma Guarda Municipal — força mínima que, em outras localidades, já funciona como alicerce de ações preventivas. Esse apagão institucional evidencia um profundo atraso político e administrativo em relação à necessidade urgente de proteção à população.
Um jogo político disfarçado de segurança em Votuporanga
O projeto apresentado na Câmara Municipal em março de 2025, pelo vereador Dr. Leandro (PSD), que prevê a criação de uma nova Polícia Municipal, soa como mais um movimento eleitoreiro, realizado em terreno vazio, sem fundamentação prática ou estrutural.
Enquanto outras cidades avançam por meio de uma evolução gradual — primeiro criando a guarda, depois fortalecendo competências — Votuporanga tenta um salto direto, fatiando o discurso político.
A crítica ganha ainda mais peso quando se observa que há policiais militares ocupando cadeiras no Legislativo municipal, mas que pouco ou nada avançaram em propostas relacionadas à segurança pública local. Nesse contexto, mesmo que considerada “fora de mão”, a iniciativa de Dr. Leandro acaba sendo um diferencial: ele propôs o que muitos sequer pensam ou ousam comentar dentro da Câmara Municipal.
Polêmica jurídica: o nome pode custar caro
Apesar da decisão do STF (Tema 656) abrir precedentes para atribuições de polícia às guardas, o uso da nomenclatura “Polícia Municipal” permanece controverso.
- Em São Paulo, o STF manteve decisão que impede a Guarda Civil Metropolitana de usar o nome “Polícia Municipal”.
- Em Itaquaquecetuba (SP), a mudança de nome chegou a ser sancionada, mas foi suspensa por liminar do Tribunal de Justiça.
- Em Belo Horizonte (MG), a Comissão de Legislação e Justiça considerou inconstitucional o projeto que tentava adotar a nomenclatura.
Esses casos ilustram que, mesmo onde já existe Guarda estruturada, a tentativa de adotar o termo “Polícia Municipal” encontra barreiras legais. A Constituição define o papel das Guardas como restrito à proteção de bens, serviços e instalações municipais — e não ao policiamento ostensivo e preventivo característico das polícias estaduais.
Risco de custos duplicados: sonho caro
Se o projeto for aprovado e, posteriormente, declarado inconstitucional pela Justiça, Votuporanga terá de reestruturar toda a instituição, arcando com custos de:
- novos uniformes e viaturas
- alteração de documentos, registros e identidade visual
- reorganização administrativa e funcional
Ou seja, além de caro para implantar, o projeto pode se tornar ainda mais oneroso para corrigir, atrasando a execução de políticas públicas concretas de segurança.
Opinião pública dividida
Parte da população e do setor empresarial enxerga a proposta como oportunidade de suprir a lacuna histórica de Votuporanga. Porém, críticos apontam que a medida tem mais cara de jogo político do que de solução efetiva. Afinal, se a cidade sequer foi capaz de estruturar uma guarda municipal em décadas, como confiar na criação imediata de uma Polícia Municipal robusta e sustentável?
Conclusão crítica
O debate em Votuporanga evidencia um problema profundo: a cidade perdeu décadas sem estruturar sua própria guarda municipal e agora tenta saltar diretamente para a criação de uma Polícia Municipal, amparada em decisões polêmicas e arriscando-se a gastos bilionários para depois ter que refazer tudo.
A proposta de Dr. Leandro pode até ser vista como ousada, já que coloca no plenário da Câmara um tema que muitos preferem evitar — inclusive parlamentares com carreira policial militar. Mas, diante do cenário jurídico e orçamentário, o projeto parece muito mais um gesto político do que uma solução real para a segurança pública municipal.
Enquanto o jogo político se desenrola, a população segue sem proteção municipal efetiva — e continua refém da violência que assola as ruas.
Contato com vereador
Segundo o vereador Dr. Leandro (PSD), o projeto foi retirado pelas diversas ações e aguarda uma definição.