Para que ninguém se assuste comigo em Americana

    PORVanderlei de Lima

    01/05/2021 17:58

    Para que ninguém se assuste comigo em Americana

    Sou eremita de Charles de Foucauld e mudei-me para Americana (SP) neste mês de maio de 2021. Para que ninguém se assuste comigo, farei breve apresentação do meu estilo de vida consagrada a Deus na Igreja Católica.

    Que é um eremita? – O eremita é um consagrado a Deus, na Igreja, por meio dos três votos clássicos, ou seja, de pobreza, castidade e obediência. Sobre o modo de viver a vida eremítica o Catecismo ensina: “Os eremitas nem sempre fazem profissão pública dos três conselhos evangélicos; mas, ‘por meio de um mais estrito apartamento do mundo, do silêncio na solidão, da oração assídua e da penitência, consagram a sua vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo’ (Código de Direito Canônico, cânon 603,1).

    Os eremitas manifestam o aspecto interior do mistério da Igreja que é a intimidade pessoal com Cristo. Oculta aos olhos dos homens, a vida do eremita é pregação silenciosa d’Aquele a Quem entregou a sua vida. Cristo é tudo para ele. É uma vocação especial para encontrar no deserto, no próprio combate espiritual, a glória do Crucificado” (n. 920-921).

    Como é o dia a dia de um eremita? – Cada um vive de acordo com a espiritualidade do santo que o inspira. No meu caso, procurando seguir os passos de Charles de Foucauld, a jornada diária começa 4h40 para os dois primeiros dos sete momentos de oração da Liturgia das Horas (cf. Sl 119,164): Vigílias (ou Leitura), recitado, portanto, antes do raiar do sol, e Laudes (louvores da manhã). Estas duas orações terminam por volta das 6h com o Angelus.

    Há, ainda, as chamadas horas menores: Terça (9h), Sexta (12h) com o Angelus e Noa (15h) com o objetivo de santificar os vários momentos do dia. Por volta das 17h30, recita-se Vésperas que se conclui também com o Angelus e, antes de dormir, reza-se Completas. Além dessas orações, o eremita vive em torno da Eucaristia (Santa Missa e adoração), medita a Palavra de Deus escrita (Escritura) e reza suas orações pessoais (terço, via sacra etc.) com ênfase especial ao Sagrado Coração de Jesus.

    No grande tempo que tem entre as orações, há – como para a imensa maioria das pessoas – o trabalho profissional de 8 horas por dia. No meu caso, consiste em traduzir livros católicos e/ou revisá-los para Editoras. Faz-se necessário dizer que para o trabalho da casa (limpar, lavar, passar, cozinhar) não há, é óbvio, empregada.


    De que modo o eremita se mantém materialmente? – Cada um tem um modo próprio de se manter. No meu caso, a Regra de vida recomenda o trabalho (revisão e/ou tradução), a venda de livros e também receber doações de benfeitores (é preciso sentir-se pobre e dependente de Deus e do próximo). No que são gastos os valores recebidos? – No pagamento do aluguel, da água, energia elétrica e na sóbria alimentação diária.

    A grande caridade de um eremita é rezar e oferecer penitências por você e suas intenções várias vezes ao dia. No portão da casa, há uma caixa para que você deixe pedidos de oração e/ou doações. Mas não só isso: há, na casa (Eremitério), um trabalho específico de acolhida a bispos e sacerdotes para retiro ou descanso.

    Como se vê, com estas ocupações, o eremita, fora razões estritamente necessárias, sai poucas vezes. Ainda que não seja um isolado, vive recolhido em “seu deserto” (cf. Os 2,14) na cidade. Ser silencioso e orante em meio aos barulhos da rua, é uma forma de lembrar-se de que a sua grande missão é interceder junto a Deus pela humanidade.

    Por fim, para que ninguém se assuste comigo e pense ou diga que tem um fantasma na cidade, aviso que, salvo exceções, uso um hábito preto ou branco. Ele tem sua razão de ser na vida eremítica. É uma forma de “pregação” silenciosa, pois como se sabe que, na farda cinza, há um policial militar ou na azul marinho um guarda civil municipal; vê-se que, dentro do hábito, há um religioso.

    Além do testemunho, o hábito ajuda a viver a pobreza, pois, usado em toda e qualquer ocasião, não exige roupas distintas nem novas (cf. Dom Dadeus Grings. Curso de Direito Canônico. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2004, p. 46).

    Endereço: Rua Iacanga, 138. Vila Mollon. Americana, SP.

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