Na manhã desta quarta-feira (24), a ONU Mulheres divulgou um levantamento que revela o avanço acelerado da violência digital contra mulheres e meninas em diferentes regiões do mundo. O fenômeno, que inclui deepfakes sexualizados, perseguição online, chantagem, exposição indevida e monitoramento abusivo, transformou o ambiente virtual em um espaço hostil e cada vez mais perigoso.
Segundo a entidade, jovens em idade escolar têm enfrentado a circulação de imagens falsas de nudez criadas com uso de inteligência artificial. Executivas e líderes políticas são alvos de campanhas de assédio e manipulações digitais, enquanto jornalistas e parlamentares relatam ameaças de violência física e até de morte por meio das redes sociais. O padrão se repete em diversos países, com índices que variam entre 16% e 58% de mulheres que já sofreram algum tipo de abuso online.
A ONU destaca que de 90% a 95% dos deepfakes publicados na internet retratam mulheres de forma sexualizada, aumentando a exposição das vítimas e agravando impactos psicológicos, profissionais e sociais. Em muitos casos, o abuso ultrapassa o ambiente digital, culminando em perseguição, agressões físicas e feminicídios.
Dados obtidos em diferentes regiões reforçam a gravidade da situação. Nas Filipinas, 83% das sobreviventes relataram danos emocionais e quase metade sofreu danos físicos relacionados ao abuso digital. No Paquistão, o assédio online foi associado a feminicídios e suicídios. Em países árabes, 60% das mulheres conectadas afirmaram ter sido vítimas de violência online. Na África, 46% das parlamentares relataram ataques virtuais. Na América Latina e no Caribe, 80% das mulheres em espaços públicos reduziram sua presença nas redes por medo.
O relatório aponta que o abuso digital costuma começar com comportamentos aparentemente pequenos, como exigência de senhas, mensagens insistentes ou comentários invasivos, que evoluem para controle, perseguição, extorsão e exposição pública. A ONU orienta que vítimas busquem apoio imediato, bloqueiem agressores, registrem provas, reforcem a segurança de contas e recorram a organizações especializadas.
Leis específicas estão sendo implementadas em vários países para enfrentar o problema, como a Ley Olimpia no México, o Take It Down Act nos Estados Unidos e o Online Safety Act no Reino Unido. No Brasil, a Lei Carolina Dieckmann estabelece punição para crimes informáticos, mas especialistas defendem avanços diante das novas modalidades de violência digital.
A ONU Mulheres reforça que combater esse tipo de violência exige a responsabilização de agressores, medidas de proteção adotadas pelas plataformas digitais e ampliação da literacia digital para que mulheres e meninas reconheçam e denunciem abusos. Para a entidade, recuperar a segurança no ambiente online é essencial para garantir liberdade de expressão e participação plena de mulheres em espaços públicos.













