Segundo a Agência Brasil ativista Assata Shakur, ex-integrante do movimento dos Panteras Negras, morreu em Havana, Cuba, aos 78 anos, devido a problemas de saúde. A informação foi confirmada na semana passada pelo Ministério de Relações Exteriores cubano.
Nascida Joanne Deborah Chesimard, Assata tornou-se um dos nomes mais emblemáticos da luta antirracista nos Estados Unidos, mas também entrou para a lista de inimigos do governo norte-americano. Em 2013, foi a primeira mulher incluída na lista de terroristas mais procurados do FBI, que oferecia US$ 2 milhões por informações sobre seu paradeiro.
Legado e controvérsia de Assata Shakur
Para militantes e intelectuais, Shakur foi referência de resistência contra o racismo e o patriarcado. Para autoridades norte-americanas, uma criminosa perigosa. Essa disputa por sua memória ficou evidente após sua morte.
O Sindicato de Professores de Chicago homenageou Assata em rede social, chamando-a de “reverenciada anciã da libertação negra”. Já o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, repudiou qualquer possibilidade de repatriação de seus restos mortais, ressaltando a morte do policial Werner Foerster, em 1973, no episódio que marcou a condenação da ex-Pantera Negra.
O caso que marcou a vida de Assata Shakur
No dia 2 de maio de 1973, Assata Shakur foi abordada com dois companheiros, Zayd Shakur e Sundiata Acoli, em Nova Jersey. Na troca de tiros, morreram o policial Werner Foerster e Zayd Shakur.
Assata foi condenada em 1977 à prisão perpétua, mesmo após perícias apontarem que ela havia sido baleada nos braços e ombros, ficando impossibilitada de atirar. Em 1979, fugiu da cadeia com apoio de militantes e, em 1984, conseguiu asilo político em Cuba, onde viveu até sua morte.
Símbolo da repressão e da resistência
Advogados e ativistas defendem que sua condenação foi fruto de perseguição política. O FBI, através do programa de contrainteligência conhecido como COINTELPRO, monitorava, difamava e criminalizava lideranças negras, incluindo nomes como Martin Luther King Jr. e Malcolm X, ambos assassinados na década de 1960.
A escritora Angela Davis afirmou que Assata foi “demonizada de forma inimaginável”, usada como exemplo para justificar a repressão a militantes negros e reforçar o complexo industrial prisional nos EUA.
Disputa pela memória de Assata Shakur
Mesmo após sua morte, o nome de Assata Shakur segue como campo de disputa nos Estados Unidos. De um lado, militantes lembram sua luta contra racismo, gênero e classe; do outro, autoridades e conservadores defendem sua memória como criminosa.
A polêmica ganha ainda mais peso no atual governo de Donald Trump, que tem buscado reescrever a narrativa sobre a escravidão e restaurar símbolos confederados no país.