A Rota vista de dentro

    PORVanderlei de Lima

    12/02/2021 00:59

    A Rota vista de dentro

    Este artigo apresenta trechos extraídos do relato feito pelo sargento Domarascki, na reserva desde 1993, em seu interessante trabalho Taxi prata: histórias e rotina profissional na visão de um “piloto” das Rondas Ostensivas “Tobias de Aguiar” – Rota. Infelizmente, sem indicação do ano de publicação ou da Editora. Tem 13 páginas.

    Antes de transcrever trechos do livreto, convém dizer que denominamos Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) o Primeiro Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo. Ela é, via de regra, apresentada como muito temida por marginais, mas venerada pela população de bem devido aos relevantes serviços prestados à sociedade.

    O sargento Domarascki começa descrevendo a preparação para mais uma noite de trabalho dos rotarianos: “Tudo ‘joia’. Viatura lavada, tanque cheio, suspensão lubrificada, pneus calibrados com 35 libras, sexta-feira, calor, zona de patrulhamento: sul. O motor 6 cilindros da Veraneio C-10 cinzenta da Rota, ligada e alinhada caprichosamente no grande pátio do Batalhão Tobias de Aguiar (B.T.A.), parece falar ao seu ‘piloto’ titular, de sua ‘impaciência’ em ganhar as ruas para mais uma noitada de serviço”. Esses PMs têm a missão de “auxiliar, socorrer, amparar o cidadão de bem, não dando trégua àqueles causadores em praticar o mal através das inúmeras formas de ilícito penal” (p. 1).

    Essa falta de trégua a marginais de todos os níveis leva alguns PMs de outros Batalhões a debocharem dos rotarianos. Colocam-lhes o apelido de “xaropetas”, mescla dos termos “xarope” e “boinas pretas”. Afinal, segundo o autor do Taxi prata, a Rota procura “o perigo como o moribundo necessita do oxigênio vital para a sua existência” (p. 2). Essa caça aos problemas de toda ordem “nada mais é do que a sua vontade sublime de proteger vidas, amparar e confortar vítimas da violência na grande metrópole” (idem).

    Um cafezinho? É bom, mas o tempo de um plantão, nas agitadas ruas de São Paulo, parece curto para isso. Os componentes da Rota 117 – número da viatura (“barca”, p. 10) com a qual trabalham – Sargento Carlos, comandante, Domarascki, motorista (“piloto”), e Candel, Eufrásio e Kinittel, seguranças, que deixaram o quartel, na Avenida Tiradentes, às 19h15, há horas, querem parar para um rápido café. No entanto, dado o volume de ocorrências em andamento, essa parada só se dá às 2h30 da manhã (cf. p. 6).


    A movimentação, entretanto, continua. “Rota 107 está conduzindo ao 43 D.P. dois indivíduos surpreendidos armados em um bar e bilhar na Cidade Ademar; Rota 123 está socorrendo ao P.S. Jabaquara motorista embriagado vítima de choque de seu veículo contra poste; equipe de Rota 121 informa que está conduzindo ao plantão do D.E.I.C. traficante e grande quantidade de ‘maconha’ localizada durante revista efetuada em seu veículo; equipe Rota 111, Sgto. Gusmão, em feitura de parto, bairro Parelheiros” (p. 4).

    Além disso, um casal com filho de colo, morador da Cidade Dutra, depois de consulta médica da criança, não tinha como voltar para a casa e foi socorrida pela Rota 117 que lhe serviu de táxi (cf. p. 6-7). A mesma viatura conduziu também até a Delegacia um senhor cujo carro havia sido furtado, mas, agora, recuperado pela equipe de Rota 105. Grandes prestações de serviços públicos, portanto. Inclusive um parto (cf. p. 3 e 7).

    Houve também um intenso tiroteio, na favela de Guaianazes, entre membros de forte quadrilha de assaltantes e homicidas e policiais da Rota que já monitoravam, há dias, esses criminosos. Eles, em vez de se entregarem, enfrentaram os rotarianos. O resultado foi recebido, pouco depois, via rádio, pela Rota 117: “Atenção Copom. Atenção Copom e rede Rota; Rota Comando socorrendo três indivíduos baleados durante troca de tiros ao P.S. Guaianazes, vários marginais detidos e farto material roubado encontrado no barraco ocupado pelos meliantes, graças a Deus, nenhum policial ferido” (p. 6).

    Por fim, às 3h30 da madrugada, é hora de aguardar o chamado pelo rádio e voltar para o quartel. No trajeto de volta, porém, há novidade: um taxista conduzia, de modo ingênuo, no seu táxi prata, dois ladrões que solicitaram uma corrida do centro ao Grajaú. O homem, graças à habilidade dos PMs da Rota, foi salvo e os malandros presos. A equipe Rota 117 só pôde chegar ao Batalhão após 15 horas de serviço (cf. p. 9).

    Eis um pouco do relato do Sargento Domarascki. Merece atenção! Parabéns!

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