O Irã voltou a criticar duramente as potências ocidentais nesta terça-feira (29), acusando-as de utilizar seu programa nuclear como uma ferramenta política para justificar confrontos e pressões internacionais. A acusação foi feita durante um discurso do embaixador iraniano na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohammad Reza Ghaebi, em Viena.
Segundo Ghaebi, os Estados Unidos e países europeus como Reino Unido, França e Alemanha estariam tentando transformar as questões técnicas envolvendo o programa nuclear iraniano em “uma crise política fabricada”. O diplomata ainda alertou que esse comportamento poderia minar a credibilidade da AIEA e prejudicar a diplomacia internacional.
“O uso político da AIEA por certas nações ameaça a integridade do sistema de não proliferação nuclear”, afirmou Ghaebi.
Enriquecimento de urânio e tensões com o Ocidente
O principal ponto de tensão gira em torno do enriquecimento de urânio feito pelo Irã, que recentemente ultrapassou os níveis estabelecidos pelo acordo nuclear de 2015 — oficialmente conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA). O acordo, abandonado pelos EUA em 2018 durante o governo de Donald Trump, previa limites para o enriquecimento em troca da suspensão de sanções econômicas.
Desde então, o Irã vem retomando gradualmente suas atividades nucleares, incluindo o enriquecimento de urânio a níveis próximos aos necessários para a fabricação de armas nucleares, o que acende o alerta nas potências ocidentais.
No entanto, Teerã insiste que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos e que as alegações de possível militarização não têm fundamento técnico.
Irã diz estar aberto à cooperação
Apesar das críticas, o embaixador iraniano reiterou que o país continua comprometido com o diálogo e com a transparência em sua cooperação com a AIEA. Ghaebi afirmou que o Irã já permitiu diversas inspeções e forneceu dados relevantes para a agência, mas que não aceitará pressões políticas disfarçadas de preocupações técnicas.
A tensão entre o Irã e o Ocidente aumentou nas últimas semanas, especialmente após um novo relatório da AIEA indicar que o país estocou quantidades significativas de urânio enriquecido acima dos limites permitidos.
AIEA pede mais acesso
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, também se manifestou recentemente, pedindo maior acesso aos locais nucleares iranianos e solicitando mais cooperação para esclarecer dúvidas sobre vestígios de material nuclear encontrados em instalações não declaradas.
Embora o Irã afirme estar colaborando, Grossi declarou que as respostas dadas por Teerã ainda são insuficientes para esclarecer todas as questões pendentes.
Implicações geopolíticas
A disputa em torno do programa nuclear do Irã não se limita ao campo técnico. Especialistas apontam que o embate reflete uma disputa maior por influência no Oriente Médio, com países como Israel e Arábia Saudita pressionando por uma postura mais dura contra o Irã.
Além disso, a continuidade das sanções econômicas afeta diretamente a economia iraniana, o que torna a negociação sobre o programa nuclear uma questão estratégica para o futuro político do país.