As síndromes psicológicas que envolvem crimes despertam o interesse de investigadores e estudiosos do comportamento humano por revelarem como emoções extremas e situações de coação podem gerar reações opostas às esperadas em vítimas e agressores. Entre as mais conhecidas estão a Síndrome de Estocolmo e a Síndrome de Lima, mas há também outros fenômenos documentados que mostram como o psicológico pode ser profundamente afetado pelo medo, isolamento e manipulação.
Síndromes psicológicas que envolvem crimes
Síndrome de Estocolmo: quando a vítima cria empatia pelo agressor
A Síndrome de Estocolmo é talvez o fenômeno mais conhecido. O termo surgiu após um assalto a banco ocorrido em Estocolmo, na Suécia, em 1973, quando quatro reféns foram mantidos em cárcere por seis dias dentro de uma agência do Kreditbanken. Durante o sequestro, as vítimas começaram a demonstrar afeição, empatia e até solidariedade pelos criminosos, chegando a defendê-los publicamente após a libertação.
O caso foi amplamente estudado por psicólogos e criminologistas, que concluíram que essa resposta emocional era uma estratégia de sobrevivência diante do trauma. O cérebro da vítima, ao perceber que não tem controle sobre a situação, busca criar um vínculo emocional com o agressor para tentar reduzir o risco de violência.
Esse comportamento é observado não apenas em sequestros, mas também em casos de violência doméstica, abusos e exploração, quando a vítima passa a racionalizar o comportamento do agressor e até a protegê-lo.
Síndrome de Lima: quando o agressor desenvolve empatia pela vítima
A Síndrome de Lima é considerada o oposto da Síndrome de Estocolmo. Ela ocorre quando o criminoso ou sequestrador desenvolve empatia, compaixão ou apego pela vítima, chegando a poupar, libertar ou até ajudá-la.
O nome surgiu após o sequestro da embaixada japonesa em Lima, no Peru, em 1996, quando um grupo de guerrilheiros do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) manteve mais de 400 reféns por semanas. Porém, nos primeiros dias, libertaram dezenas de pessoas — inclusive figuras importantes — após sentirem identificação e empatia com alguns dos reféns.
Os estudos sobre o caso apontam que os sequestradores foram influenciados por interações emocionais e sociais com as vítimas, quebrando a barreira entre dominador e dominado. Essa síndrome demonstra como até o agressor pode ser afetado psicologicamente pela convivência e humanização do outro, transformando o vínculo criminoso em algo paradoxal.
Síndrome da Dependência Traumática: laços criados pelo abuso contínuo
A dependência traumática ocorre quando a vítima passa a depender emocionalmente do agressor, mesmo reconhecendo o abuso. É comum em relacionamentos violentos ou controladores, nos quais o agressor alterna momentos de violência e afeto, gerando um ciclo de confusão emocional e submissão.
A vítima, por medo ou esperança de mudança, acaba permanecendo no vínculo, reforçando um comportamento de dependência psicológica que dificulta o rompimento da relação. Esse padrão é frequentemente analisado em casos de violência doméstica e relacionamentos abusivos.
Síndrome de Folie à Deux: a “loucura a dois”
Traduzida do francês como “loucura a dois”, a Síndrome de Folie à Deux descreve casos em que duas ou mais pessoas compartilham o mesmo delírio ou crença irracional, geralmente em contextos de isolamento e dominação psicológica.
O caso mais emblemático é o das irmãs Papin, na França, em 1933, que trabalhavam como empregadas domésticas e cometeram um assassinato brutal após desenvolverem um delírio compartilhado de que eram perseguidas pelas patroas.
Outro exemplo clássico é o casal Bonnie Parker e Clyde Barrow, que aterrorizou os Estados Unidos na década de 1930. Movidos por uma conexão emocional intensa e uma crença compartilhada de liberdade e revolta social, Bonnie e Clyde se tornaram símbolo de um amor criminoso e psicologicamente interdependente, onde paixão e violência se confundiam.
Em criminologia, esse fenômeno explica casos em que casais ou familiares cometem crimes em conjunto, como se estivessem em uma mesma realidade distorcida.
Síndrome do Salvador: quando o criminoso acredita estar “ajudando”
Outro fenômeno estudado pela psicologia criminal é a Síndrome do Salvador, que ocorre quando o agressor acredita estar praticando o crime para “salvar” a vítima ou corrigir uma injustiça”.
É comum em fanáticos religiosos, criminosos ideológicos ou sequestradores que dizem agir por “missão moral”, justificando suas ações com base em valores distorcidos.
Embora seja menos conhecida, essa síndrome reflete o quanto a mente humana pode criar justificativas emocionais ou ideológicas para o crime, borrando as fronteiras entre o certo e o errado.
A influência psicológica no comportamento criminoso
Essas síndromes psicológicas que envolvem crimes mostram que nem toda ação criminal é movida apenas por ganância ou violência — há, em muitos casos, mecanismos mentais complexos que envolvem medo, empatia, manipulação e sobrevivência.
A psicologia forense e a criminologia têm papel essencial em compreender essas reações, ajudando as autoridades a identificar padrões de comportamento, proteger vítimas e prevenir novos crimes.
Casos como a Síndrome de Estocolmo e a Síndrome de Lima demonstram que, em meio ao caos e ao medo, a mente humana pode reagir de maneiras inesperadas — ora buscando proteção, ora revelando compaixão.