Na manhã desta sexta-feira (1), o governo brasileiro voltou a se manifestar contra as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos de origem nacional, principalmente do setor agroindustrial e siderúrgico afetando a Segurança Pública. A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump no início de julho, reacende tensões comerciais entre os dois países e já acende um alerta em diferentes setores da economia brasileira. Um dos mais sensíveis é o da segurança pública, que pode sofrer com a redução de verbas federais caso a arrecadação nacional seja afetada.
AS TARIFAS
As tarifas anunciadas por Trump fazem parte de uma nova onda de políticas protecionistas adotadas desde sua volta à Casa Branca em janeiro de 2025. Justificando a defesa de empregos americanos e o combate ao que chama de “dumping internacional”, o governo norte-americano impôs sobretaxas de até 25% sobre produtos como carne bovina, aço, alumínio e derivados do agronegócio, setores em que o Brasil é líder de exportação.
Esses segmentos são também os que mais contribuem para o superávit da balança comercial brasileira. Com a redução das vendas aos EUA, estima-se uma perda anual de cerca de R$ 18 bilhões em receitas, segundo dados atualizados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Essa queda tem impacto direto nos repasses da União aos estados e municípios, inclusive nos fundos destinados à segurança.
O Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), que em 2024 destinou mais de R$ 2,1 bilhões para estados e capitais investirem em armamentos, viaturas, sistemas de inteligência e capacitação policial, já sinalizou para as secretarias estaduais a possibilidade de contenção de recursos para 2026. Os cortes atingiriam diretamente programas de monitoramento, reforço no policiamento ostensivo e expansão das muralhas digitais — essenciais no combate ao crime organizado e na redução de homicídios.
“Com a arrecadação em queda, os primeiros setores a sofrerem são os que dependem de investimento público direto, como saúde, educação e segurança. E no caso da segurança, há um efeito em cadeia: menos policiamento, aumento da criminalidade e maior pressão sobre o sistema judicial e penitenciário”, afirmou o economista e especialista em gestão pública Renato Tavares, em entrevista ao canal GloboNews.
Além do impacto econômico, há preocupação com o aumento da instabilidade em regiões industriais e rurais que dependem fortemente das exportações para os Estados Unidos. Estados como Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul — polos do agronegócio e da indústria metalúrgica — já preveem impacto no mercado de trabalho, o que pode gerar aumento de crimes patrimoniais e tráfico de drogas em áreas vulneráveis.
NEGOCIAÇÕES
O Itamaraty informou que busca negociar diretamente com o governo norte-americano, mas já discute com o Ministério da Fazenda estratégias para compensar as perdas, inclusive para com medidas emergenciais de redistribuição de recursos internos. Paralelamente, o Ministério da Justiça estuda priorizar os estados com maior índice de criminalidade para evitar colapso nos serviços essenciais das polícias civis e militares.
Analistas afirmam que a postura mais rígida de Trump nas relações exteriores pode afetar não apenas o Brasil, mas diversos países da América Latina, e que a segurança pública será uma das áreas mais silenciosamente atingidas. Em um momento em que o crime organizado se articula com cada vez mais sofisticação e acesso a armamento pesado, qualquer redução de investimento na segurança representa risco direto à população.
ESTADO E MUNICÍPIOS
Enquanto isso, governos estaduais e municipais seguem atentos às movimentações em Brasília e às possíveis medidas compensatórias. Até que uma solução diplomática ou comercial seja encontrada, o país pode assistir a um desequilíbrio entre os desafios de segurança e a capacidade real de enfrentá-los.